Festas Anuais

As Festas anuais

Desde os tempos mais remotos a humanidade já comemorava o movimento cíclico da natureza, ou seja, as quatro estações do ano. O homem tinha a percepção da influência deste movimento observando as mudanças no clima, plantações, marés, etc.
O ritmo anual era cultuado e agora nos serve de fundo para falarmos da importância de também cultuarmos nossas festas anuais: Páscoa, São João, São Micael e Advento.
Com o passar do tempo a humanidade se distanciou cada vez mais dos valores sagrados dessas festas e a sua magia vem se perdendo. O homem tirou o sagrado da vida moderna e com isso vem secando a própria vida. É preciso despertar a magia dessas datas e criar o hábito de festejar com a criança os reais valores de cada um desses marcos.
No tempo nada fica marcado materialmente, portanto, o ser humano precisa usar uma força interna “memória” que trás a consciência do tempo.
Para marcarmos nossa vivência corporal, criamos algumas colunas no tempo; nascimento, casamento, morte, etc. Essas são nossas colunas pessoais e podemos observá-las seguindo uma linha horizontal. Quando não a cultivamos mais, perdemos nossa referência temporal. Assim, também ocorre em maiores proporções com as festas anuais. Elas são como colunas, agora verticais, que nos possibilitam a retomada com o mundo superior.
Celebrar esses encontros maiores, este religar, sustenta e alimenta a humanidade. As colunas verticais são fontes de renovação contínua do tempo. Quando refletimos e compreendemos o real sentido da renovação, somos alimentados e ganhamos novas forças para sermos verdadeiramente seres humanos.



 A Bola Dourada
Hella Krause Zimmer

            Era uma vez um lindo jardim, que pertencia a um palácio, onde brincava muitos príncipes e princesas. O jardim era cercado por um pequeno bosque, de modo que ninguém podia olhar lá dentro. Além disso havia lá uma cerca muito alta, que impedia a entrada de qualquer pessoa que quisesse entrar.
            Mesmo assim, sempre havia muitas crianças das aldeias na cerca, tentando vislumbrar o brilho do jardim oculto, através das árvores.
            Um dia aconteceu algo maravilhoso! Num caminho estreito entre as árvores surgiu um pequeno menino, vestido de seda azul celeste, com longos cabelos cacheados, carregando uma brilhante bola dourada nas mãos. Diante dele abriu-se um portão na cerca, que sempre estivera fechada, e ele saiu.
            As crianças das aldeias permaneceram em volta dele, boquiabertas. Então o menino levantou a bola e jogou-a morro abaixo, pois o jardim ficava no topo de um morro. Quando as crianças se recuperaram de seu assombro, começaram a perseguir como loucas a bola dourada, correndo morro abaixo. Somente um pequeno menino ficou ali parado, sem tirar os olhos daquele adorável príncipe e sem importar-se com a bola dourada. O pequeno príncipe, então, estendeu a mão para ele, e disse: Venha!
            O portão na cerca fechou-se atrás deles e de mãos foram caminhando pelo bosque. O menino de seda azul mostrou ao menino da aldeia todos os seus lugares prediletos: um banquinho de musgo perto de uma fonte, um pequeno caramanchão sob as árvores. Depois chegaram num campo grande, iluminado pelo sol, no qual mais cinco príncipes brincavam alegres.
            Quando viram os dois chegando, correram ao seu encontro e levaram o menino surpreso para um pequeno trono, montado no gramado. “Você será o nosso rei!!” , exclamaram.
            “Eu?” disse o menino surpreso.
           “Sim, você! Somos seis príncipes e não sabíamos a quem eleger para ser o nosso rei; então decidimos jogar a bola dourada no mundo, e quem não a seguisse seria o nosso rei.” E levaram-no a um trono e colocaram uma coroa na sua cabeça.
            Com a coroa na cabeça, ele pode ver o que estava acontecendo no mundo. E ele viu, então, os homens correndo atrás da bola dourada. Mal alguém tinha a bola na mão por um momento, outro já a arrancava dele. Ninguém ficava feliz com a bola, todos tornaram-se infelizes, desde que ela rolava entre os homens. Quanto mais o menino via isso, mais triste ficava. “Os homens não sabem brincar com a bola dourada”, disse. E depois de uns momentos ele adicionou: “Quero voltar ao mundo; talvez eu possa ajudar-lhes”.
            Mas os príncipes advertiram-no: “Se você for ao mundo, terá que tirar a coroa e descer para lá, pobre e desconhecido do mesmo modo que subiu aqui. Se você contar aos homens que é um rei, eles irão rir e caçoar de você.”
            “Eu quero ir assim mesmo”, disse o menino e se pôs a caminho. O portão fechou-se atrás dele e ele caminhou morro abaixo para o mundo. Ao se despedir, os seis príncipes ainda lhe disseram: “Nunca esqueça que será sempre o nosso rei e poderá voltar a qualquer hora. Esperaremos por você.”
            Quando o menino chegou no mundo dos homens, viu que ainda corriam atrás da bola dourada e a arrancavam uns dos outros, não soube como ajudar-lhes.Não davam atenção ao que lhes dizia e só tentavam tira-lo do caminho. Sentou-se triste numa pedra na beira do caminho e observou a correria dos homens no vale atrás da bola dourada. Ele pensou e pensou e não conseguiu achar uma solução.então viu como a bola, de repente, adquiria duas pequenas asas, tão douradas quanto ela mesma, e depois elevou-se de entre os homens e voou em direção ao jardim.
            A terra então, escureceu, e os homens que ainda não tinham compreendido o que se havia passado, continuaram a brigar na escuridão. Perseguiam-se e como tinham agido assim por tanto tempo, chegaram a acreditar que isso fazia parte da vida. Esqueceram completamente a época em que tinham estado lado a lado, de comum acordo, na cerca de um belo jardim celestial, esperando que acontecesse um milagre.
Quando o menino percebeu o que acontecera, pos-se a caminho de volta ao jardim. No portão os seis príncipes foram ao seu encontro e o saudaram. Ele perguntou:”A bola dourada voltou para o jardim?”
            “Sim”, disseram os príncipes. “O rei no palácio chamou-a. Ele disse que não adianta dar presentes aos homens, eles não sabem lidar com eles. Meus príncipes brincam com a bola dourada desde tempos imemoriais, mas os homens se matam por causa dela.”
            “Mas o que podemos fazer?” perguntou o menino.
            “Teremos que esperar até que os homens voltem a lembrar-se de nós”, responderam os príncipes. “Quando eles, como você, quiserem tornar-se nossos companheiros, então reencontrarão também a bola dourada. Entre, então.”
            O menino foi brincar com os príncipes e sentou-se novamente no trono. Puseram-lhe também a coroa na cabeça e ele viu o que acontecia no mundo.
            Não demorou muito para que os homens lhe causassem tanta pena na sua desgraça e escuridão, que quis novamente descer para lá. “Vocês agora precisam dar-me a coroa”, disse ele aos príncipes, “porque ficou escuro no mundo.Se eu não tiver nada que irradie luz, os homens não me verão e serei pisado.”
            “Leve uma pedra da coroa, se o rei deixar.”
            O menino, então, foi falar com o rei no palácio. O rei disse:”O que você prefere: que eu deposite o grande rubi da coroa no seu coração, quando você for ao mundo, ou que eu oculte os diamantes atrás da sua testa como o cintilante mecanismo de um relógio, para que os homens o admirem?”
            O menino pensou longamente, depois disse: “Senhor, eu quero ajudar os homens. Eu não vou ao mundo para que admirem diamantes preciosos em mim ou queiram tomar o meu coração, por parecer-lhes valioso. Dê-me o que considera bom para os homens, pois eu quero ir a eles como teu servo.”
            O rei então sorriu, afagou o seu cabelo e colocou a coroa inteira na sua cabeça e despediu-o para que pudesse descer para o mundo dos homens.
           

 "Voa linda borboleta
Entre as flores do jardim
Sua cor e sua luz
São presentes para mim."


"Quando a lagarta se recolhe
Ela dorme se envolve
Num casulo delicado
E na escuridão nasce a luz
Que dá vida à borboleta
Voa cor de flor em flor"





Preparando João Batista



"Arde fogueira,
crepita ó fogo
fogosa flameja
fogueira que fiz!
Fagulha bem alto,
flameja e abranda
e venha me contar
o segredo do fogo, 
do arder,
do queimar."




São João e a Perdiz

                Um estrangeiro que havia ouvido falar muito de São João decidiu visitá-lo. Imaginava o santo homem estudando, debruçado sobre manuscritos, aprofundando-se em grandes contemplações etc... Ele o visita e fica muito admirado, ao ver São João brincando com a perdiz, que lhe comia na mão – e ele fazia mil brincadeiras com a dócil ave. São João vera a surpresa do estrangeiro, mas fazia de conta que não percebera nada. Durante a conversa então, João lhe disse: “Tu tens aí um arco, mantém ele sempre tenso?”
“Deus me livre”, disse o estrangeiro, “isso não faz nenhum caçador, o arco iria afrouxar-se.”
“Com a alma humana é a mesma coisa, ela tem que ser solta, senão ela também afrouxa”, disse João.

(Esta historinha foi escrita pela mãe de Goethe, numa carta a seu filho, para desculpar-se por ser tão alegre e cheia das brincadeiras e explicar-lhe porque era tão importante ter momentos de alegria e lazer. Goethe era muito tenso, mesmo que às vezes “brincasse com a perdiz”, logo transformava o momento num problema a ser analisado).
(Oferenda a São João)




Deus te salve João
Batista sagrado
O teu nascimento
Nos tem alegrado
Se São João soubesse que hoje era o seu dia Descia
do céu à terra
Com prazer e alegria
João batiza Cristo
Cristo batiza João
Todos foram batizados
Lá no rio Jordão

                                             Valmir Batista Corrêa  (Hino tradicional de São João)  




                                                 PREPARANDO MICAEL

Nego-me a submeter-me ao medo
que tira a alegria de minha liberdade,
que não me deixa arriscar nada,
que me torna pequeno e mesquinho,
que me amarra,
que não me deixa ser direto e franco,
que me persegue,
que ocupa negativamente minha imaginação,
que sempre pinta visões sombrias.
 Não quero levantar barricadas
por medo do medo.
Eu quero viver, não quero encerrar-me.
Não quero ser amigável por ter medo de ser sincero.
Quero pisar firme porque estou seguro,
não para encobrir meu medo.
E quando me calo, quero fazê-lo por amor,
não por temer as conseqüências de minhas palavras.
Não quero acreditar em algo
só pelo medo de não acreditar.
Não quero filosofar por medo de que algo
possa atingir-me de perto.
Não quero dobrar-me, só porque tenho medo
de não ser amável.
Não quero impor algo aos outros
pelo medo de que possam impor algo a mim.
Por medo de errar, não quero tornar-me inativo.
Não quero fugir de volta para o velho, o inaceitável,
por medo de não me sentir seguro de novo.
Não quero fazer-me de importante porque tenho medo
de que senão poderia ser ignorado.
Por convicção e por amor, quero fazer o que faço
e deixar de fazer o que deixo de fazer.
Do medo quero arrancar o domínio e dá-lo ao amor.
E quero crer no reino que existe em mim.
              (Rudolf Steiner)
  

Época de Micael


Desde o século IX se festeja o dia 29 de setembro como o dia de São Micael e os festejos seguem por mais quatro semanas. Micael tem uma tarefa muito especial que é impulsionar a humanidade para que reconheça o espiritual como sendo realidade e o vivencie, passo a passo, para que então o espiritual se torne atuante nas ações.
O modo como realmente deve ser uma Festa de Micael para a humanidade, ainda é uma tarefa a ser realizada no futuro. Mesmo assim, podemos tentar encontrar um meio e, com toda humildade, esforçar-nos para despertar nas crianças uma idéia sutil de Micael.
Não será difícil achar uma apresentação adequada para a mesa ou o cantinho de festas, pois há inúmeras delas. Uma imagem aproximadamente completa da entidade e da atuação de Micael, nos poderá ser dada somente por uma visão conjunta de várias imagens com os mais variados aspectos deste ser. Vejamos alguns.

Ilustrações: Muitas ilustrações trazem Micael lutando contra o dragão, que quase sempre representa o diabo. Micael (que significa: Quem é como Deus?) é um ajudante incentivador e encorajador do homem em sua disputa com o mal, com as forças antagônicas. Em todas as boas representações pode-se ver que o dragão de baixo de seus pés não esta morto, mas com a força descomunal vencida, subjugada. Assim, Micael ajuda aos homens e lhes consegue dar espaço para uma atividade própria, porque conseguiu impor limites à força descomunal do maligno.
Outro motivo básico que se pode encontrar é Micael segurando uma balança. Assim é que ele aparece em representações do juízo final ou em cenas que caracterizam a vida após a morte. O bem e o mal são pesados conjuntamente, e a alma humana vivencia então como doloroso aquilo que, pelo seu atuar, pesou no lado mau, e como bem-aventurança o que pode ser pesado no lado bom.
           Micael representado com um globo terrestre transparente, que muitas vezes traz um símbolo crístico, no centro, mostra-nos sua prontidão e atuação para formar um mundo novo (na Bíblia em Apocalipse de São João, 21): A construção de uma Jerusalém celestial.
Mais raras são as representações de Micael sob a cruz do Gôlgata, ou Micael como acompanhante de pessoas falecidas, ou como guardião nos portais de igrejas. Um sem número de imagens o mostra como atuando em lendas. Nestas, conta-se como sua atuação foi uma ajuda da em destinos humanos isolados. (A palavra lenda = legenda, tem origem no latim e significa ler, interpretar. Logo uma lenda deve ser lida com a compreensão adequada para ser entendida corretamente).
Mesa de festas: deve-se escolher a representação mais adequada e, quando as crianças tiverem crescido, se poderá variá-la, para que cada atuação de Micael tenha a sua vez de estar em evidência.
Micael está numa soleira, num limiar, e indica aos homens a outra vida, diversa, resultante do espírito. Um ramo de folhas coloridas do outono e outro de bagos ou frutinhas silvestres refletem um pouco deste ambiente, desta atmosfera.
O pão de Micael: Com tudo o que faz, Micael nos quer aproximar da compreensão daquilo que o Cristo fez e sempre faz por nós.
Se colocarmos, no cantinho das festas, as dádivas da natureza, teremos feito, de um modo sutil, uma relação com os profundos mistérios do Cristianismo. Em diferentes partes da Europa, conhece-se o pão ou o bolo de São Micael. Este uso pode ser retomado e, no dia, haverá então na mesa de festas uma cesta de pãezinhos (levemente adocicados e com uva-passa) na feitura dos quais, logicamente, as crianças participaram.
A balança: Há poucas tradições para esta época. Mas, para que as crianças participem atuando nos preparativos e demonstrem sua boa vontade (o que é o ponto importante e essencial desta época) pode-se fazer o seguinte: Na manhã do dia festivo, em cima da mesa de festas, encontra-se uma balança de dois pratos (pode ser feita facilmente com material simples de encontrar). Um prato se acha bem baixo, pesado, com uma pedra escura, escurecida ou tingida. A criança deve ajudar então, diariamente, São Micael e poderá colocar no outro prato uma pedrinha que tenha encontrado no jardim ou em passeios. Pedra que deverá ser bem clara, talvez com um desenho especial ou de formato distinto; ou a criança transforma uma pedrinha simples em uma “preciosa”, enfeitando-a com pedacinhos de massa de cera de abelha. À noite, quando já passou o dia com suas vivências, chega o momento adequado para a pequena cerimônia da pesagem. A criança vivência então como, diariamente, o prato do lado bom vai ficando cada vez mais pesado, chegando ao equilíbrio e finalmente alcançando o vitorioso peso maior. Também, numa ocasião propícia, pode-se contar à criança que nada se perde, nem o mínimo ato bom, por menor que seja, e que passou despercebido de todos, pois nos mundos celestiais ele é recebido com muita alegria e fortalece a força do bem no mundo. Na noite após a época festiva (sábado após o quarto domingo), os dois pratos devem ser esvaziados e as pedrinhas devem desaparecer. Não são guardadas e, sim, procuradas cada ano novamente, para que adquira sentido o que a criança faz. Com isto, as quatro semanas de festas micaélicas não são vivenciadas como se perdessem suas forças; pelo contrário, neste pequeno exercício se perceberá uma força crescente.
Empinar um papagaio: É uma tradição muito propicia para esta época. As crianças maiores terão alegria em empinar papagaios feitos por elas próprias com os pais. É uma vivência infantil muito especial ter o controle, em sua mão, do papagaio que flutua tão alto lá em cima - e também de poder trazê-lo de volta para baixo! É um símbolo que fala por si.

O dragão sob os pés: Talvez se possa achar uma raiz de forma bizarra. Com a ajuda de cera de abelha colorida para modelagem e um pouco de fantasia (imaginação) poderá surgir um dragão de talvez até várias cabeças. Em cima dele ficará de pé o arcanjo Micael, também modelado pela mesma cera. Toda família poderá moldar estas formas e será uma vivência muito importante para a criança. Na mesa de festas, fica o local de colocar a imagem trabalhada em conjunto.
Dramatizações: Quando se reúnem crianças nesta época, ficará fácil dramatizar pequenas lendas e histórias com roupas adequadas, facilmente encontradas. Após ouvirem a história, as crianças são vestidas, combina-se em poucas palavras o transcorrer da peça, e ela pode começar. Às vezes, é aconselhável tomar somente cenas ou acontecimentos curtos, isolados e relatar a história nos intervalos.
Como as crianças se identificam e assumem facilmente sua personagem, estas brincadeiras podem ser usadas nesta época, através da escolha de histórias próprias, para fortalecerem o impulso específico da época: fazer o bom e o bem corajosamente e igualmente  trazer absolvição e libertação para o mundo.
(Livro “Festejando as festas anuais com crianças” (pg 78-84)
Stuttgart v. Brigitte Barz)
(extraído da Revista Nós 1990 – Escola Waldorf Rudolf Steiner)


A Princesa do Castelo em Chamas (conto da Transilvania, Romenia)

Atenção, abrir em uma nova janela.
Era uma vez um homem que tinha tantos filhos quantos furos tem uma peneira. Todos os homens da aldeia já eram seus compadres. Ao nascer-lhe mais um filho, sentou-se na estrada para pedir ao primeiro transeunte que fosse padrinho da criança. Vinha então descendo a estrada um velho com um manto cor de cinza, ao qual ele fez o pedido, aceitou com prazer. Seguiram juntos o caminho, e o velho ajudou a batizar a criança. Deu, então, de presente ao pobre uma vaca e um bezerro nascido no mesmo dia em que seu afilhado. O bezerro tinha na testa uma estrela dourada e deveria pertencer ao menino.
 Quando o menino cresceu, o bezerro se havia tornado um enorme touro, e juntos iam ambos todos os dias ao pasto. O touro sabia falar e, quando chegavam ao topo da montanha, dizia ao menino:
 - Fica aqui e dorme. Enquanto isso, vou procurar meu pasto.
 Assim que o pastor dormia, o touro corria como um raio até o grande pasto celeste e comia flores douradas de estrelas. Quando o sol se punha, ele voltava para acordar o menino, e iam, então para casa. Isto se repetiu todos os dias até o menino alcançar a idade de vinte anos. Um dia, disse-lhe o touro:
 -Senta-te agora entre os meus chifres e eu te levarei até o Rei. Pede-lhe uma espada de ferro do tamanho de sete varas e dize-lhe que queres salvar sua filha.
 Logo eles estavam no castelo real. O pastor desceu e foi ter com o Rei; este lhe perguntou o motivo de sua vinda. Após ouvir a resposta, deu-lhe com prazer a espada desejada, mas sem muita esperança de poder rever sua filha. Muitos jovens audaciosos tinham em vão ousado libertá-la. Ela fora raptada por um dragão de doze cabeças, que morava muito, muito longe. Ninguém podia chegar até lá, pois no caminho para seu castelo se encontrava uma serra imensamente alta, intransponível; e, mais além, um grande mar bravio. Adiante dele morava o dragão, em seu castelo de chamas. Mesmo se alguém conseguisse transpor a serra e o mar, ninguém lograria passar pelas chamas poderosas; e, mesmo tendo-as vencido, teria sido morto pelo dragão.
 Quando o pastor obteve a espada, montou novamente entre os chifres do touro, e num instante eles se encontraram diante da serra imensa.
 -Podemos voltar – disse ela ao touro, pois achava impossível transpô-la.
 O touro respondeu-lhe:
 -Espera apenas um instante!
 E desceu o rapaz ao chão. Mas tinha feito isso, deu um impulso e moveu, com seus chifres poderosos, a serra inteira para o lado; e eles puderam seguir em frente.
 O touro assentou o pastor novamente entre os chifres, e logo eles alcançaram o mar.
 -Agora podemos voltar – disse o jovem -, pois ali ninguém consegue passar.
 -Espera apenas um instante – retrucou-lhe o touro -, e segura te bem em meus chifres.
 Então inclinou a cabeça até a água e bebeu o mar inteiro, e assim prosseguiram eles em chão seco, como sobre um  gramada.
 Logo chegaram ao Castelo de Chamas. Mas, já de longe, sentiram um calor tão imenso que era quase insuportável ao rapaz.
 Pára – gritou ele ao touro -, não vás em frente, senão vamos morrer queimados.
 O touro, porém, correu até bem perto e cuspiu de uma vez por sobre as chamas o mar que havia bebido, e elas rápido se apagaram. E logo uma fumaça enorme se elevou, enevoando todo o céu. Então, do vapor medonho, saltou o dragão de doze cabeças, enraivado.
 -Agora é tua vez – disse o touro a seu amo. – Vê se consegues cortar todas as cabeças do monstro de um só golpe.
 Ele juntou toda a sua força, tomou a espada poderosa com as mãos e golpeou tão rapidamente o monstro que todas as cabeças rolaram ao chão. O animal se contorceu e se debateu contra a terra com tal força que ela tremeu. O touro apanhou o corpo do dragão com seus chifres, arremessando-o ás nuvens; e nada mais se viu dele.
 O touro disse ao pastor:
 - Minha tarefa chegou ao fim. Vai até o castelo, e lá encontrarás a princesa. Leva-a de volta a seu pai.
 Tendo dito isto, correu para o gramado celeste, e o rapaz nunca mais o viu.
 O jovem se dirigiu ao castelo, onde encontrou a princesa, que se alegrou muito por estar livre do terrível dragão.
 Regressaram ambos então ao país da princesa, onde se casaram; e uma enorme alegria invadiu todo o reino.
 


PREPARANDO O NATAL

O Nascimento de Cristo


O Nascimento de Cristo
Benza Deus o nosso entrar
E a hora da saída;
Benza o pão em nosso lar,
Quem repousa e quem lida.
Boa morte a Deus roguemos,
E o céu nós herdaremos.
Cumprindo o bom Deus
O que nos prometeu,
Mandou-nos lá do céu
O anjo Gabriel,
Na galiléia desceu,
Bem onde é Nazaré.
Há uma virgem lá
Seu nome é Maria
Foi dada por mulher,
Maria a José.
E nos tempos de Augusto
Concebeu Maria
No momento justo
Cumpriu-se a profecia.
Quis o César decretar:
Todos devem se alistar
Sem impedimento
No lugar em que nasceu,
Cada um compareceu
Ao recenseamento.
O grande César decretou,
E logo o censo começou.
Lá vai José a caminhar
Com a gentil Maria.
Vem vindo lá de Nazaré,
Até Belém na Judéia.
E ao entrarem em Belém
O seu filhinho ali nasceu.
Todos devem se alegrar
Pois hoje lá em Belém
Um lindo menininho rei
Nasceu por nosso bem
Do céu é a sua luz,
Seu nome é Jesus
Aqui desceu querendo vir
Do mal nos redimir.
Lembremos nós que Jesus nasceu
Humilde como ninguém.
Foi na lapinha que desceu
Tão pobre, em Belém.
Na palha se deitou.
Assim se anunciou.
E dele todos vós sabeis
Que é o Rei dos reis.



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